Ah, os sabores da infância! Você lembra do gosto do arroz doce da sua avó? Porque tem gente por aí que troca isso por um “overnight oats” com whey sabor unicórnio. A obsessão fitness sequestrou o prazer de comer e botou um plano alimentar no lugar da memória afetiva. Mas aqui a gente não conta macro, a gente conta história — e ela começa com os sabores da infância.
Onde foi parar o gosto da comida?
O Brasil, país do PF, virou refém de influenciador que pesa o alface. Na ânsia de ser “saudável”, muita gente aposentou o pão na chapa com manteiga Aviação e adotou o pão de fermentação natural sem glúten feito por startup de pão disruptivo. Spoiler: não é o glúten que te atrasa, é a saudade do arroz com feijão da mãe que você nunca processou.
Quando a comida vira performance, a infância vira ruína. Porque não existe memória feliz com frango desfiado sem sal.
Clássicos que marcaram os sabores da infância
Antes da air fryer, existia o fogão da mãe. Antes do brigadeiro de biomassa, existia o brigadeiro de leite condensado fervendo na panela até o fundo queimar um pouquinho — e a gente raspar com colher. Os sabores da infância moram nesses detalhes. Não são só receitas: são marcas na memória gustativa, como cicatriz de joelho ralado.
Aqui vai uma lista não-exaustiva e altamente emocional:
- Bolo de cenoura com cobertura de chocolate de verdade (nada de ganache fit)
- Gelatina colorida em camadas, aquele arco-íris que sua tia fazia com paciência de monge
- Arroz doce ou canjica no São João, com cravo, canela e zero remorso
- Pão com margarina derretida no café da manhã, porque a infância tinha colesterol e gosto
- Cuscuz com manteiga, o verdadeiro breakfast dos campeões
- Bala de coco do batizado, que grudava nos dentes e na alma
- Bolinho de chuva na tarde chuvosa, servido com açúcar e afeto
- Geladinho (ou sacolé ou chup-chup) de groselha, feito no saquinho, e não essa gourmetização com hibisco
- Tapioca com coco ralado e leite condensado, quando tapioca ainda era sobremesa e não opção sem glúten
- Farofa com ovo no almoço de domingo, porque nem toda memória é doce — algumas são crocantes e salgadas
- Biscoito de polvilho que vinha no saquinho de feira, com gosto de infância e de falta de dentista
Essa lista pode variar de região pra região, mas o que não varia é o poder que essas comidas têm de nos lembrar de um tempo em que comer era só isso: comer. Sem tabelas nutricionais, sem culpa, sem post no Instagram.
Comida é memória, afeto e identidade
A relação entre comida e memória vai além do paladar. Segundo o projeto Sustentarea da USP, o comportamento alimentar é moldado pelo ambiente em que crescemos e pelas pessoas com quem convivemos. Essa carga cultural e afetiva é carregada para o resto da vida, sendo frequentemente resgatada por meio da memória afetiva.
Lembrar do tradicional almoço de domingo ou de uma receita específica pode nos transportar à infância e revelar aspectos da nossa cultura e identidade. Não é à toa que, diante de um arroz doce fumegante, a gente não vê só um prato — vê a cozinha da avó, o azulejo marrom, o rádio tocando Fagner.
📚 Fonte: USP – Comida, memória, afeto e identidade
Receita: Arroz doce raiz (sem adoçante e sem culpa)
6
porções?
não importa, vive45
minutosReceita clássica de arroz doce cremoso, do jeitinho que a vó fazia: com leite condensado, canela e zero concessão ao leite vegetal.
Ingredientes
1 xícara de arroz branco
1 litro de leite integral
1 lata de leite condensado
1 pau de canela
3 cravos-da-índia
1 pitada de sal
Canela em pó pra finalizar (porque estética também é sabor)
Modo de Preparo
- Cozinhe o arroz em 2 xícaras de água até quase secar.
- Jogue o leite, o leite condensado, os cravos, a canela e o sal.
- Mexa em fogo baixo até engrossar e tomar consistência.
- Sirva quente ou gelado.
Quando servir? Sempre que você lembrar de quem você é
Essa receita representa perfeitamente os ‘sabores da infância’ e é perfeita pra comer sozinho no sofá vendo reprise da TV Colosso ou pra enfiar goela abaixo do seu amigo vegano que acha que arroz doce pode ser feito com leite de castanha. Spoiler: não pode.
Bebidas e acompanhamentos
Quer acompanhar? Vai de café preto passado na hora, ou cachaça artesanal de alambique. O importante é que venha com gosto. Sem espuminha de leite vegetal, sem shot de gengibre.
Conclusão: só sente saudade quem já foi feliz
Resgatar os sabores da infância é mais do que cozinhar — é resistir. Contra a pasteurização da comida, contra o culto do corpo, contra a ideia imbecil de que prazer é inimigo da saúde. No Monólogos do Arroz, a gente serve afeto com gordura e história com açúcar.
Comenta aí qual sabor da infância ainda te assombra (ou te salva). E se gostou, compartilha com aquele primo que virou adepto da dieta do jejum intermitente e esqueceu como é bom comer sem culpa.